Reeditando a final de 1981, disputada em Tóquio, no Japão, Flamengo e Liverpool entram em campo neste sábado às 14h30 para a decisão do Mundial de Clubes em Doha, no Catar. Há 38 anos, os brasileiros venceram os ingleses por 3 a 0 com uma atuação magistral de Zico, que foi premiado como melhor jogador da partida e ganhou um Toyota Celica.
Autoesporte entrevistou o ídolo flamenguista, que atualmente mora no Japão e é diretor técnico do Kashima Antlers, time no qual encerrou sua carreira como jogador em 1994.
“Eu já recebi muitas propostas para vender o Celica, mas isso nunca passou pela minha cabeça. É um grande troféu, uma recordação imensa, é a competição mais importante que o Flamengo venceu até hoje. O carro está em casa e funcionando muito bem, tudo normal. E vai ficar lá para sempre enquanto eu estiver vivo”, exalta.
A Toyota patrocinou o campeonato mundial interclubes de 1980 a 2014 e tradicionalmente o melhor jogador da partida sempre levou um carro para casa. Em muitos casos, o jogador premiado vendia o veículo e dividia o valor entre os companheiros. Mas Zico não fez isso: ele acabou “comprando” o carro.
“A Toyota queria que eu trouxesse o automóvel para o Brasil de qualquer jeito, por causa da importação fechada naquela época. E eu realmente queria trazer o Celica como um troféu. Então peguei o valor de mercado dele, US$ 8 mil, e dividi entre toda a comissão” explica o craque.
Mas importar um carro para o Brasil não era uma missão fácil naquela época. Entre 1976 e 1990, os veículos autorizados a entrar no país eram exclusivos para serviço de autoridades, como embaixadas e consulados.
A única alternativa para um cidadão comum ter um carro desses na garagem era entrando em uma fila e talvez, por vias muito burocráticas, conseguir uma autorização para conseguir realizar a importação. Também era possível ficar em outra fila para comprar carros usados de autoridades.
O Galinho de Quintino, como também é conhecido, classificou sua dificuldade em trazer o carro como “enorme”.
“Para conseguir trazer o Celica tive que pedir ajuda para algumas pessoas, como o Ministro da Fazenda na época, Francisco Dornelles, Carlos Langoni, presidente do Banco Central que é flamenguista roxo, e o Márcio Braga, que foi presidente do Flamengo de 1977 a 1980”.
A final contra o Liverpool ocorreu em dezembro de 1981, mas o carro só chegou ao Brasil em abril de 1983. Justamente nesta data o então camisa 10 do Flamengo estava se transferindo para a Udinese, da Itália.
Quando o Toyota Celica entrou no Brasil, o contrato foi de admissão temporária por um ano. Depois desse período, o carro teria de ir até o Paraguai para realizar a renovação de contrato anual todos os anos.
Tal burocracia não foi necessária, entretanto. Durante o período de admissão temporária, foi criada uma lei determinando que qualquer atleta que representasse o Brasil em uma competição oficial no exterior e ganhasse um veículo de prêmio estava isento de taxa e autorizado a trazê-lo ao país.
Muita gente tentou burlar as regras a partir da brecha criada por essa lei, que acabou sendo cancelada no final dos anos 80. Só que com as importações abertas novamente em 1990 o problema de regulamentar o carro terminou.
Além de toda a saga para obter o carro, outras curiosidades cercam o modelo da Toyota. O Celica que veio ao Brasil não era o Celica ST que estava no Estádio Nacional de Tóquio. Mas sim um Celica 2.0 GT, fabricado em 1982 – já de terceira geração. Seu motor é um 2.0 de 145 cv de potência e 19 kgfm de torque.
Como veio importado dos Estados Unidos, a direção é do lado esquerdo, e não no direito, como são os veículos japoneses.
Zico só colocou o carro para rodar em 1985, quando voltou ao time carioca, depois de jogar duas temporadas na Udinese. Enquanto isso o compacto esportivo ficou nas mãos de Edu, seu irmão mais velho, que também foi jogador e é um dos maiores ídolos da história do América, clube tradicional do Rio de Janeiro. “Ele fez muito bom proveito do Celica”, conta o craque aos risos.
Atualmente o modelo está com pouco mais de 100 mil quilômetros rodados e as peças necessárias para a manutenção são apenas encontradas nos Estados Unidos. O ídolo rubro-negro só tem uma crítica a fazer ao seu xodó sobre rodas. “A direção não é hidráulica e é muito pesada, aí quando estou no Brasil e quero fazer musculação, saio dirigindo o Celica” brinca.
A história de Arthur Antunes Coimbra, o verdadeiro nome de Zico, com seuToyota Celica é o retrato da paixpaixão imensurável do ex-jogador pelo Flamengo, onde é considerado o maior ídolo de todos os tempos.
› FONTE: 24 Horas No Ar (24horasnoar.com.br)