Pode um time que se classificou na última rodada das Eliminatórias ser campeão da Copa do Mundo? Há exatos 20 anos, em um 30 de junho, a seleção brasileira deixou para trás o rótulo de desacreditada e conquistou o inédito pentacampeonato, em cima da Alemanha (2 a 0), no estádio de Yokohama, no Japão.
O Brasil literalmente acordou para aquela Copa do Mundo — disputada sob o fuso horário da Coreia do Sul e do Japão, sedes daquele torneio — já perto da decisão contra a Alemanha. Além de, claro, o título, valia também a hegemonia entre as seleções para o time verde-amarelo. Os alemães haviam sido campeões em 1954, 1974 e 1990 (depois ainda viriam a levantar o troféu em 2014). Do outro lado, os brasileiros haviam conquistado a glória em 1958, 1962, 1970 e 1994.
A partida do outro lado do mundo começou às 8 horas da manhã de Brasília. Com a camisa amarela, o calção azul e a estranha combinação de meias azuis (para diferenciar das brancas dos alemães), os comandados da Família Scolari entraram em campo animados sob o ritmo do samba tocado no ônibus que levou a equipe para o estádio.
A agonia do 0 a 0 durou até os 22 minutos do segundo tempo, quando foram os alemães que dançaram. Ronaldo, que havia dois anos não era nenhum fenômeno, em razão das lesões no joelho, perdeu a bola no ataque, mas não desistiu. O camisa 9 roubou a bola, tocou para Rivaldo e contou com o rebote do justamente melhor jogador do competição, Oliver Kahn, para abrir o placar. Em seu podcast, o ex-jogador relembrou a frustração de quatro anos antes, quando teve uma convulsão antes da derrota para a França, e explicou o lance.
“O Felipão me falava sempre: ‘Perdeu a bola, ao invés de ficar ali reclamando, levanta, dá o pique pra recuperar o mais rápido possível’ [e recompor a defesa]. Ele brigava comigo, porque ele não queria que eu fosse no rebote durante os treinos. E ele cansou de parar treino para proibir de ir no rebote, que era para evitar lesão, num choque. E por ironia do destino, o instinto do centroavante de ir no rebote falou mais alto. E foi um golaço”, analisou Ronaldo.
Nem a torcida confiava. Começamos a unir o grupo, a coisa começou a acontecer
Rivaldo, meio-campo
Por ironia do destino, o instinto do centroavante de ir no rebote falou mais alto
Ronaldo Fenômeno, atacante
Rivaldo, quem chutou em gol no primeiro lance e, depois, fez o corta-luz para que Ronaldo, aos 34 minutos, fizesse o segundo, tem uma visão mais sensata sobre as dificuldades do time até a decisão. Ainda nas Eliminatórias, Vanderlei Luxemburgo, Candinho e Emerson Leão haviam treinado a equipe que se classificou apenas contra a Venezuela, em partida em São Luís (MA), bem distante das exigentes torcidas de São Paulo e do Rio, por exemplo.
“Foi uma preparação difícil. Nem a torcida nem a imprensa brasileira confiavam no que iria acontecer na Copa do Mundo. Muitas pessoas não confiavam. Começamos a unir o grupo, a coisa começou a acontecer”, disse Rivaldo, que até hoje garante não ter nenhuma rivalidade com Ronaldo pelo protagonismo na equipe.
Erguer o troféu de campeão é uma tradição brasileira. O gesto começou lá atrás, com o zagueiro Bellini, no título da seleção brasileira, em 1958. Para atender a um pedido dos fotógrafos, o capitão levantou a taça, então Jules Rimet, acima da cabeça sem saber que ali estava exportando para o mundo uma mania que dura até hoje.
Cafu, capitão do penta, que disputava a sua terceira final consecutiva, tinha após o jogo a missão de seguir o ritual. O lateral-direito, no entanto, quis inovar. Ele subiu no púlpito em que a Copa do Mundo estava posicionada e dali, para desespero dos presidentes Ricardo Teixeira (CBF), Joseph Blatter (Fifa) e do convidado de honra Pelé, mostrou a glória a todos.
Mais do que isso, Cafu escreveu na camisa “100% Jardim Irene” e gritou “Regina, eu te amo” para lembrar o bairro em que foi criado na zona sul de São Paulo e celebrar seu casamento. Os outros 22 jogadores felizes cercaram o capitão, mas não apareceram na principal foto daquela edição de Copa do Mundo.
Vinte anos depois, a seleção, agora comandada por Tite, busca o hexacampeonato. A competição no Catar 2022 começa em 21 de novembro e vai até 18 de dezembro. O Brasil estreará contra a Sérvia, no dia 24. Ainda na primeira fase, a equipe enfrentará Suíça (28/11) e Camarões (2/12), no Grupo G.
Fonte: esportes.r7.com.br
› FONTE: 24 Horas No Ar (24horasnoar.com.br)