A decisão do Congresso em derrubar o decreto do IOF aumenta a tensão na relação com o Palácio do Planalto, retrata o isolamento cada vez maior do governo e mostra o caminho de alianças para a disputa presidencial de 2026.
Para além da questão envolvendo o aumento do imposto, os parlamentares levam em conta o enfraquecimento da gestão Lula a um ano da próxima campanha presidencial.
De um total de 513 deputados, 383 votaram pela derrubada do decreto que aumenta o IOF. Ou seja, parlamentares da base de Lula decidiram ir contra uma medida considerada crucial pela equipe econômica para manter o equilíbrio das contas públicas. Apenas 98 —menos de 1/5 votaram a favor, evidenciando o isolamento do governo.
A derrota acachapante na votação da Câmara retrata também como o desgaste do governo junto à opinião pública reflete nos resultados da articulação no Congresso, uma vez que os partidos se aliam com as forças políticas que estão em ascensão. Em fevereiro, a popularidade de Lula caiu para o nível mais baixo de seus três mandatos como presidente do Brasil. Em junho, pesquisas Datafolha e Ipsos/Ipec mostraram queda na avaliação positiva nos números de aprovação do governo. Neste cenário, a derrubada do IOF e a consequente derrota do governo não foram resultados apenas do trabalho da oposição. Pelo contrário: incluíram os aliados de PSD, MDB, Republicanos, Progressistas e União Brasil, que têm ministérios no governo. O argumento da oposição e dos partidos aliados era o de trabalhar contra o aumento de impostos —ao mesmo tempo em que o Congresso promove aumento de gastos, como a criação de novas vagas para deputados. "O povo brasileiro é quem sai fortalecido, o pagador de impostos do Brasil já paga impostos demais. O governo é analógico, não tem capacidade de gerir a política econômica", disse à coluna o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido, o maior da oposição. A insatisfação dos parlamentares passa ainda por outro fator: a relação entre o governo e o Supremo Tribunal Federal, principalmente no que envolve o pagamento de emendas parlamentares e decisões do ministro Flávio Dino. Ex-ministro da Justiça de Lula, Dino é constantemente apontado por integrantes do centrão e da oposição como alguém que faz "dobradinha" com o Planalto para segurar a liberação das verbas. O ministro deu diversas decisões bloqueando pagamento e exigindo maior transparência no direcionamento do dinheiro público, além de ser o relator de investigações de parlamentares que usaram dinheiro de emendas de maneira irregular, segundo a Polícia Federal. O governo não descarta levar o tema do IOF ao Supremo, o que pode aumentar o conflito entre os Poderes. Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Oposição e centrão unidos pela derrubada
Insatisfação com &39;dobradinha&39; contra emendas
Reportagem
› FONTE: 24 Horas No Ar (24horasnoar.com.br)