Tarcísio de Freitas (Republicanos) visita o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) hoje levando um recado: vai tentar a reeleição ao governo de São Paulo. O aviso coloca o governador do Paraná, Ratinho Jr (PSD), como bola da vez na candidatura da direita à Presidência.
Quando estiver olho no olho com Bolsonaro, Tarcísio falará o que tem dito em entrevistas. Não trabalha com a hipótese de concorrer ao Planalto por uma série de razões. A decisão não é nova, de acordo com interlocutores que conversaram com o UOL.
Aliados afirmam que, em conversas com imprensa e nos bastidores da política, Tarcísio sempre repetiu que tentará a reeleição. Os interlocutores acrescentam que o governador de São Paulo está buscando se afastar das discussões sobre a sucessão presidencial.
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A primeira razão para continuar no cargo seria a intenção de deixar um legado. Ficar quatro anos no governo é considerado tempo insuficiente para elaborar e colocar políticas públicas em prática. Também não haveria tempo hábil para projetar, licitar e construir obras. Estas entregas são vistas como as marcas que renderão dividendos durante anos. Outro motivo é o risco político. Governadores que pularam etapas na carreira têm fracassado. Os interlocutores citaram João Doria como exemplo a não ser seguido. O resultado da pressa foi ir direto e sem escalas de um dos cargos mais importantes da política nacional para a aposentadoria. A resistência do bolsonarismo radical a Tarcísio é omitida por aliados. Discursos sem criticar Alexandre de Moraes e passagens pelas gestões Michel Temer (MDB) e Dilma Rousseff (PT) são motivos de desconfiança da ala extremista em relação ao governador. Eduardo Bolsonaro dá voz a este grupo ideológico. O deputado federal não poupa Tarcísio de críticas em redes sociais. A divulgação de conversas pelo WhatsApp entre o parlamentar e o pai revelou que no privado o tom é ainda mais ácido. O recado de Tarcísio a Bolsonaro sobre tentar a reeleição não convence o meio político como um todo. O centrão ressalta que muita coisa vai aconteceraté o final do ano e mudanças consideráveis podem vir. Uma ala acredita que o governador está despistando para evitar se tornar alvo de Lula e do PT. O discurso de reeleição diverge de movimentações recentes de Tarcísio. O governador foi presença constante em Brasília por semanas a fio. Nestas visitas, participou de eventos da direita e de jantares com presidentes de partidos que poderiam ser seus aliados na corrida presidencial. A agenda na capital federal incluiu negociações pela anistia. Tarcísio se tornou o principal embaixador do perdão aos presos do 8 de Janeiro. Ele fez até reunião com seu colega de partido Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara e quem decide se coloca ou não a proposta em votação. O governador também deu uma guinada nos discursos. Sempre comedido, partiu para cima do STF (Supremo Tribunal Federal) e pediu "fora Moraes" de cima do carro de som no ato de 7 de Setembro. Em outra parte da fala, foi duro com o ministro do Supremo: "Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes". Este conjunto de atitudes foi visto como movimento para ser candidato à Presidência. A motivação desta mudança de comportamento seria agradar a ala ideológica do bolsonarismo e convencer o ex-presidente a bater o martelo e nomear Tarcísio como seu herdeiro político. De segunda a sexta, a lagartixa traz notícias de política com humor pra quem não quer perder tempo! Enquanto Tarcísio sugere tirar o time de campo, Ratinho Jr avança. O governador do Paraná tem agenda de pré-candidato que inclui viagens pelo país e costuras políticas para viabilizar seu nome. Ele vai com frequência a São Paulo conversar com o setor econômico. Os encontros têm a participação de grandes empresários e do alto escalão do mercado financeiro. Jantares são organizados por Gilberto Kassab. Presidente do PSD, partido de Ratinho Jr, ele também tem feito articulações para angariar apoio de partidos. O projeto da anistia ganhou fôlego na mesma época em que o PSD concordou em avalizar a proposta. Ratinho Jr ainda participa de eventos de aliados. Indicado pelo PSD para concorrer ao governo de Santa Catarina, João Rodrigues recebeu o governador do Paraná duas vezes neste ano. Neste mês, a dupla esteve com milhares de militantes fazendo discurso de chefe de Estado em Florianópolis. João Rodrigues adianta o que deve ser a agenda de Ratinho Jr numa eventual corrida presidencial. Ele declarou que o governador do Paraná é associado imediatamente à agenda da direita conservadora. O diferencial seria a promessa de superar a polarização Lula x Bolsonaro para focar nos problemas do pais. A juventude de Ratinho Jr ajudaria a embalar esse discurso de novo momento político. O alinhamento com o agronegócio também é lembrado. João Rodrigues recebeu Bolsonaro no oeste catarinense antes da campanha de 2018. Esta interlocução ajudou o ex-presidente a conquistar o setor. Ele diz que a tarefa é mais fácil com Ratinho Jr porque já se trata de uma família com propriedades rurais. Os evangélicos têm uma simpatia gratuita por Ratinho Jr. A afirmação é do deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ). Ele ressalta que "a boa vontade natural" está baseada nos tempos do apresentador Ratinho na Record. O pai do governador é lembrado pelos bispos como sujeito bonachão e um "homem de família". Mas há resistências a Ratinho Jr. O deputado Luiz Lima (Novo-RJ) pondera que ele é bem avaliado em um estado muito homogêneo e com tradição de direita. O parlamentar avalia que a popularidade de Tarcísio e Romeu Zema (Novo) tem mais valor porque ocorre em locais plurais. A leitura é que Ratinho Jr foi menos testado. A escolha do governador do Paraná significaria a colocar como líder da chapa da direita um político que não participou de embates com a ala mais radical da esquerda e nunca dialogou com eleitores menos conservadores que os paranaenses. Os parlamentares do PL que conversaram com o UOL ressaltam que a opinião decisiva é a de Bolsonaro. Eles têm boa impressão de Ratinho Jr e lembram que o escolhido como herdeiro pelo ex-presidente deve levar o campo todo do bolsonarismo, chegando ao segundo turno para tentar derrubar Lula. O indulto a Bolsonaro é considerado certo. Senadores e deputados do PL não enxergam alguém recebendo o apoio do ex-presidente sem estar comprometido a anular as condenações do STF. Eles lembram que Bolsonaro falou de Ratinho Jr pouco antes de ser proibido de dar declarações. Os parlamentares ressaltam que não há coincidência na política. Fonte: noticias.uol.com.br
Diferença de discurso e prática
Ratinho Jr desponta