Uma das novidades dessas eleições por todo o país foi a quantidade de pessoas trans que se candidatou e mais do que isso, se elegeu. Um levantamento preliminar feito por entidades LGBTI+, publicado no site Congresso em Foco, aponta que pelo menos 25 candidatos que se identificam como transexuais, bissexuais, gays ou lésbicas se elegeram vereadores nesse domingo (15). Outras nove candidaturas ficaram na suplência.
Apesar de termos sido, proporcionalmente, o estado com segundo maior número de candidatos trans no país, nenhuma pessoa com esse perfil se elegeu nos 79 municípios, seja no legislativo ou no executivo.
Kensy Kenidy (PT) tentou se eleger vereadora em Campo Grande pela primeira vez nessas eleições. Com 119 votos, de modo geral ela não vê como um fracasso a falta de êxito nas candidaturas ligadas à comunidade LGBTs. Porém afirma que o Estado ainda precisa avançar no esclarecimento e educação.
“Acho que a quantidade de candidaturas é um avanço importante. Eu mesmo tive uma receptividade ótima por onde passei. Porém, existe um estigma muito forte que marginaliza as pessoas trans, como se só trabalhássemos como profissionais do sexo ou outras ocupações, quando isso não é verdade”, afirma Kensy que é profissional da saúde e se colocou como defensora da classe na campanha.
Outra candidatura com esse perfil, que trouxe, aliás, duas novidades, foi a candidatura coletiva do casal Karla+Karlo (PSDB), sendo Karlo um homem trans. Os dois tiveram 386 votos e também disputaram uma cadeira na Câmara Municipal da Capital pela primeira vez.
Karla avalia que dois fatores atrapalharam eles nessa caminhada: o tempo de campanha que eles tiveram e o perfil conservador da população de Campo Grande.
“Foi uma junção de coisas, mas o que se percebe ainda é um quadro de muito conservadorismo. Nós fizemos uma campanha muito bonita, mas em cima da hora e isso também nos prejudicou”.
Outra candidatura inédita para o legislativo de Campo Grande foi do homem trans João Vilela (PDT), que recebeu 324 votos. Ele também destaca o perfil conservador da população, mas faz uma crítica construtiva à própria classe LGBT.
“Dá pra perceber que somos muitos, mas não somos muito politizados e às vezes isso tem um reflexo nessas candidaturas. E tem também a questão da política em geral, está todo mundo saturado de política. Em grande centros com São Paulo, Belo Horizonte existe uma conscientização maior das pessoas, por isso lá temos casos de sucesso”.
Em Belo Horizonte, por exemplo, a vereadora mais votada dessas eleições, e da história da cidade, é uma mulher trans, a professora de literatura Duda Salabert (PDT), que teve mais de 37 mil votos.
Cris Stefanny (PSD) tentou se eleger pela terceira vez em Campo Grande, ela é a representante mais antiga de pessoas trans a tentar se eleger por aqui. Cris tem uma carreira política relativamente extensa, dentro em fora das instituições públicas, no entanto recebeu apenas 354 votos, bem menos que nas outras duas vezes, em 2008 e 2012, quando recebeu mais de mil votos nas duas oportunidades.
Cris também volta parte de sua análise para a comunidade LGBT. Ela lamenta que para alguns eventos festivos há união, mas que quando é necessário um esforço em torno de algo sério, como uma candidatura, essa união se esvai.
“Não basta olhar só o perfil do candidato, tem que ver o que ele representa, pra quem representa. Muitas pessoas da comunidade acabam votando em pessoas que até lutam contra ele mesmo e isso causa um ciclo vicioso e ruim para nós pessoas trans e para os LGBTs em geral”.
› FONTE: 24 Horas No Ar (24horasnoar.com.br)