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Em Fortaleza, apoio de Lula importa mais que de Bolsonaro ou do prefeito

Publicado em 17/10/2020 Editoria: Política sem comentários Comente! Imprimir


 

Em Fortaleza, apoio de Lula importa mais que de Bolsonaro ou do prefeito

Monalisa Torres e Luciana Santana

A eleição municipal na capital cearense tem chamado a atenção especialmente pelo desempenho nas pesquisas de intenção de voto do candidato da oposição, Capitão Wagner (PROS). O candidato, que tem apoio do presidente da república, Jair Bolsonaro, coloca em risco a possibilidade de sucessão do grupo que atualmente está no comando da capital, representado pelo Prefeito Roberto Cláudio (PDT).

img1 - Dados do Ibope/ TV Verdes Mares - Dados do Ibope/ TV Verdes Mares
Pesquisa de intenção de votos para a Prefeitura de Fortaleza (14/10/2020)
Imagem: Dados do Ibope/ TV Verdes Mares

Na última pesquisa realizada pelo Ibope/TV Verdes Mares, divulgada no dia 14 de outubro, Capitão Wagner apareceu com 28% das intenções de votos e segue tecnicamente empatado com a candidata Luizianne Lins (PT), que tem 23%. Sarto (PDT) aparece em terceiro lugar com 16%. Os demais candidatos não ultrapassaram 6%.

Desempenho de Capitão Wagner

O deputado federal Capitão Wagner tem forte associação com as corporações militares. Foi o principal líder do movimento paradista dos policiais militares em 2012, quando marcou definitivamente seu papel como antagonista ao então governador Cid Gomes (PDT).

De lá para cá, venceu sucessivas disputas a cargos legislativos, sempre como o mais votado. Eleito vereador em 2012, deputado estadual em 2014 e federal em 2018, Wagner disputou a prefeitura de Fortaleza em 2016 pelo PR, perdendo no segundo turno para o atual prefeito, que disputava a reeleição. Em 2020, o seu bom desempenho nas pesquisas indica que pode ir novamente para o segundo turno.

PDT e PT em Fortaleza

Como em outros momentos da história política de Fortaleza, em 2020 o prefeito Roberto Cláudio não preparou um sucessor que pudesse emergir como candidato natural representando o bloco governista. A dificuldade era acomodar aliados fortes dentro de uma base ampla e com projetos partidários para 2022.

Apesar dos movimentos do atual governador do Ceará, Camilo Santana (PT), a ala petista mais ligada a ex-prefeita Luizianne Lins recusou aliança com o PDT de Roberto Cláudio e dos irmãos Ferreira Gomes, a quem se coloca como opositora desde 2012.

Pelo lado governista, havia a certeza de que a cabeça de chapa deveria ser do PDT, já que o projeto nacional do PDT para 2022 passa, necessariamente, pela conquista da prefeitura de Fortaleza, a quinta maior capital do país.

Dentre os pré-candidatos governistas a prefeitura de Fortaleza em 2020, o nome de Sarto (PDT) aparecia com um dos mais fortes. Atualmente, está em seu sétimo mandato de deputado estadual, é presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (ALECE) e trabalhou muito próximo ao governador Camilo Santana nos episódios recentes das crises de segurança pública e sanitária. Político de carreira, possui excelente trânsito entre os partidos que compõem a base aliada, além de ter construído boas relações na Câmara de Municipal de Fortaleza (CMF).

A indicação do vice de Sarto foi avalizada por Camilo Santana. A opção recaiu no ex-secretário da Casa Civil do governo do estado, o sociólogo e pessebista Élcio Batista, homem de confiança do governador.

O PT tentou aproximação com o MDB de Eunício Oliveira, mas os acordos não avançaram. O insucesso de compor alianças com outras legendas forçou o PT a lançar candidatura pura. Isolado, o partido oficializou Luizianne Lins e Vladyson Viana (PT), nome ligado ao deputado federal José Guimarães (PT).

Apoios políticos nacionais na disputa

A pesquisa Ibope também sondou a influência do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Lula no voto do fortalezense. Para apenas 14% dos entrevistados, o apoio de Bolsonaro contaria muito na decisão do voto. Já para outros 33%, o apoio de Lula aumentaria muito as chances de voto em um candidato. Isso indica um recall positivo em relação aos governos petistas na capital cearense.

Os respondentes também foram consultados sobre a influência de Ciro Gomes (PDT) e Roberto Cláudio. Para 14%, o apoio de Ciro Gomes conta muito e 18% consideram muito importante o apoio do atual prefeito, que aparece com 49% de avaliação ótima e boa.

E o apoio do governador Camilo?

Apesar da pesquisa Ibope também sondar o apoio de lideranças políticas, como o caso do atual governador do Ceará, sobre o voto do eleitor de Fortaleza, é importante ressaltar que, desde a redemocratização a dinâmica eleitoral de Fortaleza tem se mostrado "imune" a influência do governador. Nem mesmo Tasso Jereissati (PSDB), no auge de seu poder, conseguiu emplacar candidaturas a prefeito na capital.

Mas, pela primeira vez, o apoio do governador parece ter importância nas disputas em Fortaleza. Duas candidaturas disputam o apoio de Camilo Santana, que tem 56% de aprovação segundo Ibope. De acordo com a pesquisa, 20% afirmaram votar em um candidato indicado pelo governador.

A boa avaliação de Camilo e o desempenho de seu governo na gestão da pandemia são fatores que podem contribuir para uma melhorar a intenção de votos em Sarto e Luizianne. Ambos tem feito menções ao governador em propagandas eleitorais veiculadas na primeira semana. Apesar de afirmar neutralidade no primeiro turno das eleições em Fortaleza, Camilo Santana fez sinalizações de seu apoio a Sarto.

Luizianne, partidária do governador, chegou a dizer que trabalhará "em parceria com o companheiro Camilo Santana" e reivindica o direito de explorar o "legado petista" a nível federal e estadual.

Eleição indefinida

Apesar das movimentações, ainda é cedo para cravar os nomes dos candidatos que chegarão ao segundo turno na disputa pelo comando da capital.

Monalisa Torres é doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. É professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e pesquisadora vinculada ao Laboratório de Estudos sobre Políticas, Eleições e Mídia (Lepem/UFC)
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.

Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2020, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.observatoriodaseleicoes.com.br

› FONTE: 24 Horas No Ar (24horasnoar.com.br)


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