A redução na participação dos chineses na compra da soja americana trouxe maior pressão para o setor nos Estados Unidos. Com o prejuízo dos produtores, o presidente Donald Trump afirmou que o assunto será um dos principais temas a serem discutidos com o líder chinês, Xi Jinping, em encontro previsto para ocorrer daqui a quatro semanas.
A tensão entre os países, elevada em 2018, permitiu que o Brasil alcançasse um dos maiores níveis de exportação para a época. Naquele ano, o Brasil exportou US$ 27,2 bilhões em soja para a China, contra US$ 20,3 bilhões no anterior, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Hoje, a soja é o principal produto comprado pelos chineses na relação comercial com o Brasil. De 2018 a 2024, o Brasil exportou US$ 571,1 bilhões para a China, sendo quase US$ 198 bilhões só em soja, o equivalente a cerca de 34%.
Assim, caso o cenário seja revertido e Trump consiga um acordo com os chineses para exportar mais soja ao país asiático, é possível que o agronegócio brasileiro seja prejudicado.
Entretanto, para analistas consultados pelo R7, é pouco provável que a China substitua o Brasil como principal fornecedor.
Para o especialista em comércio exterior Jackson Campos, é possível que os chineses fechem acordos pontuais com os americanos, mas apenas como um gesto estratégico e político.
“A China busca diversificação para não ficar dependente de um único país. Assim, mesmo que aumente as compras americanas, deve manter volumes relevantes com o Brasil”, afirma.
Apesar da grande capacidade produtiva dos EUA, o país não consegue atender sozinho a demanda chinesa por soja. “Há limitações de área plantada, custos de produção e até logísticas internas. A China consome mais do que a soma da produção de apenas um país”, explica o especialista.
A analista de Comércio Internacional na BMJ Consultores Associados Ana Paula Abritta diz acreditar que qualquer parceria entre os países não deve interferir nas exportações do Brasil.
“A gente percebe que, ao longo dos anos, uma parcela das exportações americanas de soja eram designadas para a China. Então, essa tendência tende a voltar. Acredito que, neste momento, ela tem sido usada como moeda de troca fortíssima e principalmente por questão de segurança alimentar, mas não tende a prejudicar as importações do Brasil”, analisa.
A escolha pela soja brasileira se dá justamente pela qualidade e pelo preço, que tem valor mais competitivo que a dos americanos. Ana Paula explica que a maior estabilidade entre Brasil e China, principalmente por conta dos Brics, também é um fator fundamental.
“A gente consegue fornecer volumes maiores do que os Estados Unidos em várias janelas do ano. A gente oferta entre fevereiro e maio, e as safras dos EUA saem entre setembro e novembro”, conta.
“Então, a gente garante um fornecimento contínuo, equilibrando a sazonalidade. O Brasil tem investido em portos e logística, o que também melhora nossa competitividade”, avalia Ana Paula Abritta.
Segundo a imprensa americana, em 2024, por exemplo, os chineses compraram 52% de todas as exportações de soja, totalizando quase US$ 13 bilhões. Neste ano, porém, a China ainda não comprou o produto do país.
O afastamento dos compradores chineses gera preocupação para os produtores americanos, uma vez que pode faltar espaço para o armazenamento dos grãos.
Nas redes sociais, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que os produtores estariam sendo prejudicados porque a China, “por questões de negociação”, não está comprando a soja.
“Ganhamos tanto dinheiro com tarifas que vamos pegar uma pequena parte desse dinheiro e ajudar nossos produtores. Nunca deixarei nossos agricultores na mão! O sonolento Joe Biden não fez cumprir nosso acordo com a China, onde eles comprariam bilhões de dólares de nossos produtos agrícolas, mas principalmente soja. Tudo vai dar muito certo. Eu amo nossos patriotas, e todo agricultor é exatamente isso! Vou me encontrar com o presidente Xi, da China, em quatro semanas, e a soja será um dos principais tópicos de discussão”, escreveu Trump.
Com a situação, senadores republicanos chegaram a afirmar que iriam manter a pressão até conseguir retomar as vendas.
Atualmente, a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Entre os principais produtos exportados, estão soja, milho, açúcar, carne bovina, carne de frango, celulose, algodão e carne suína in natura.
Entre agosto de 2023 e julho de 2024, a China foi o principal destino das exportações do agronegócio brasileiro, totalizando US$ 58,60 bilhões. O valor corresponde a um aumento de 10% em comparação ao período anterior, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária.
Em 2023, houve recorde de mais de US$ 60 bilhões nas exportações, um aumento superior a US$ 9 bilhões em relação a 2022.
Fonte: noticias.r7.com
› FONTE: 24 Horas No Ar (24horasnoar.com.br)