Com apoio suprapartidário, senador Nelsinho Trad promove audiência no Congresso e reforça defesa do diálogo como saída à maior crise comercial Brasil-EUA em meio ao tarifaço
“Retaliações entre parceiros não constroem nada”
Com apoio suprapartidário, senador Nelsinho Trad promove audiência no Congresso e reforça defesa do diálogo como saída à maior crise comercial Brasil-EUA em meio ao tarifaço
Sob a presidência do senador Nelsinho Trad (PSD-MS), o Senado Federal reuniu nesta quarta-feira (24) autoridades, especialistas e representantes do setor produtivo em audiência pública para discutir os desdobramentos da investigação conduzida pelo Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) contra o Brasil, no âmbito da Seção 301, e as implicações das tarifas de até 50% impostas por Washington a produtos brasileiros.
O encontro ocorreu um dia após um breve aceno entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, em Nova York, que reaqueceu expectativas de diálogo direto no mais alto nível, alternativa defendida há meses pelo presidente da Comissão Temporária Externa para Interlocução sobre Relações Bilaterais com os Estados Unidos (CTEUA), senador Nelsinho Trad, como possivelmente a única saída para destravar a crise comercial.
“Os acenos que ocorreram ontem na Assembleia da ONU são exatamente aquilo que vínhamos defendendo: não se resolve o tarifaço sem diálogo de alto nível. Está na hora de virar essa página para seguirmos com os mais de 200 anos de relações comerciais e diplomáticas com os EUA”, afirmou.
O parlamentar ressaltou ainda que o Senado tem atuado de forma suprapartidária e que o canal com parlamentares norte-americanos segue aberto. Segundo ele, “deve haver novidades nesta semana”, fruto da interlocução estabelecida pela missão oficial aos Estados Unidos, liderada por ele em julho.
O pior desafio em 50 anos
O economista Marcos Troyjo foi direto: “O Brasil tem diante de si o principal desafio diplomático-comercial dos últimos 50 anos. Não consigo pensar em um momento tão difícil em que Brasil e Estados Unidos estivessem tão distantes” &65532;.
Ele advertiu que apenas uma construção política pode evitar um contencioso mais duradouro, com reflexos até a eleição brasileira do ano que vem.
A secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, apresentou dados que reforçam a dimensão da crise: os EUA seguem como terceiro principal destino das exportações brasileiras, mas de toda forma sustentando superávit robusto de mais de US$ 7 bilhões em bens e US$ 91 bilhões em serviços em 2024 &65532;.
Ela destacou medidas do governo como o Plano Brasil Soberano e o mecanismo de reintegração tributária, que permitirá às empresas recuperar até 3,1% do valor exportado. Também lembrou a assinatura do acordo Mercosul–EFTA, ressaltando a necessidade de coordenação com o Legislativo.
Defesa técnica e riscos
O diretor do Departamento de Política Comercial do Ministério de Relações Exteriores, Embaixador Fernando Meirelles de Azevedo Pimentel, detalhou a posição brasileira: “As ações americanas não se sustentam. Nossas disposições estão sempre dentro das regras multilaterais”.
Ele lembrou que a Seção 301 contra o Brasil é a maior investigação já aberta pelo USTR e alertou para o risco de novas medidas via Seção 232, que afetam setores como aço, madeira e autopartes.
Na mesma linha, o advogado e ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral afirmou que a 301 é “um instrumento de pressão política”, que exige resposta multissetorial e diplomática &65532;.
Impactos no agro e na indústria
A CNA apresentou dados preocupantes: apenas 24 produtos agropecuários foram incluídos na lista de exceções — entre eles castanha-do-pará, suco de laranja e alguns artigos de madeira &65532;.
Segundo Fernanda Maciel Carneiro, do sistema CNA, açúcar registrou queda de quase 60% nas exportações, óleos vegetais caíram 25% e amendoim 22%. Produtos com alta dependência do mercado americano, como carne bovina industrializada (59% destinada aos EUA), mel (78%) e pescados (56%), seguem expostos &65532;.
A gerente de Comércio e Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria, Constanza Negri Biasutti, também projetou perdas: 74% das exportações brasileiras aos EUA estão, hoje, sujeitas a tarifas adicionais, com destaque para produtos industriais, químicos e metalúrgicos &65532;. O impacto estimado chega a R$ 26 bilhões em exportações e 57 mil empregos &65532;.
Constanza destacou ainda que a integração Brasil–EUA gera 24,3 mil empregos a cada R$ 1 bilhão exportado e que a pressão deve ser sustentada também em Washington.
Fabrizio Sardelli Panzini, da AmCham Brasil, reforçou que “em 50% dos casos de investigações 301 não há aplicação de sanções” e defendeu novas missões parlamentares.
Próximos passos
Ao encerrar a audiência, o senador Nelsinho Trad reiterou que a comissão seguirá articulando com o Executivo e o setor privado, mas frisou que o peso da solução está no campo político:
“Sem o olho no olho, sem estreitar a relação entre os presidentes, não vamos resolver esse impasse. O Congresso continuará acompanhando de perto os acenos feitos na ONU e fomentando para que o diálogo direto aconteça”, disse.
Fonte: nelsinhotrad.com.br
› FONTE: 24 Horas No Ar (24horasnoar.com.br)