foto: Sheyla Leal
Senado convoca diplomacia parlamentar para conter “tarifaço” dos EUA
Com a entrada em vigor da sobretaxa de 50% prometida pelos Estados Unidos a partir de 1º de agosto, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS) convocou uma reunião extraordinária da Comissão de Relações Exteriores para a próxima terça-feira (15), às 10h. O objetivo é debater estratégias à medida anunciada por Donald Trump, que ameaça diretamente exportações do Brasil — especialmente nos setores do agronegócio e da indústria.
Logo após a reunião, haverá uma coletiva de imprensa no mesmo plenário.
O presidente da CRE lembra dois exemplos bem-sucedidos de contenção diplomática: a missão liderada pela então ministra Tereza Cristina, hoje vice-presidente da CRE, durante o governo anterior — que reverteu um tarifaço sobre o aço e o alumínio — e a postura do México em situação semelhante, contornada com diálogo.
Exportações em risco
Ao longo do primeiro semestre de 2025, o superávit comercial dos Estados Unidos em relação ao Brasil chegou a US$ 1,7 bilhão — um salto de quase 500% em comparação com o mesmo período de 2024. O resultado em parte já reflete os efeitos iniciais do tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump, em abril, após o chamado “Dia da Libertação”.
Houve crescimento de 7,7% na corrente de comércio bilateral, que totalizou US$ 41,7 bilhões — o segundo maior valor da série histórica —, porém as importações advindas dos EUA avançaram mais do que as exportações brasileiras àquele destino. Nesse cenário, os impactos das medidas de Trump sobre a competitividade brasileira vêm se tornando mais visíveis, especialmente em setores estratégicos, segundo levantamento da Amcham Brasil.
De todo modo, mesmo com os efeitos adversos, os EUA seguem como importante parceiro comercial do Brasil. Nossas exportações para aquele mercado somaram US$ 20,0 bilhões no primeiro semestre de 2025, alta de 4,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. O desempenho ficou acima da média global brasileira, que registrou queda de 0,6% nas exportações. Entre os principais parceiros, apenas a Argentina (+55,4%) superou os Estados Unidos em crescimento — impulsionada por um cenário de recuperação econômica no país vizinho. China (-7,5%) e União Europeia (+2,6%) ficaram abaixo.
Os setores mais atingidos pelas novas tarifas americanas incluem:
• Energia (petróleo e derivados) – 35% das exportações;
• Bens industriais e tecnológicos – 20%(
• Metalurgia (ferro e aço) – 15%; e
• Agropecuária (carne, café, suco) – 12,5%.
Entre os principais produtos abarcados estão petróleo bruto, aeronaves, café, carne bovina e lingotes de ferro — todos sob risco de retração com o agravamento da política tarifária americana. O estado de Mato Grosso do Sul está entre os mais expostos, com forte peso da carne bovina nas exportações para o mercado norte-americano.
Articulação institucional
A audiência reunirá representantes do:
• Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores);
• MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços);
• MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária);
• CNI (Confederação Nacional da Indústria); e
• CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
O senador organiza também uma missão parlamentar a Washington para abrir canal direto com parlamentares e autoridades do governo norte-americano. A proposta partiu do encarregado de negócios dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, durante sua última visita ao senador. Uma nova reunião entre o presidente da CRE e o diplomata deve ocorrer nos próximos dias.
“Trump deixou claro que a medida só começa a valer em 1º de agosto. Ele abriu um espaço. Cabe ao Brasil agir com maturidade para que o agro, a indústria e o trabalhador não fiquem no prejuízo,” disse o senador Nelsinho Trad.
Coletiva de imprensa da Comissão de Relações Exteriores (após a reunião da CRE):
• Data: Terça-feira, 15 de julho
• Local: Plenário 7, Ala Alexandre Costa, Senado Federal
› FONTE: 24 Horas No Ar (24horasnoar.com.br)