“Não tem saída – essa questão só vai se resolver quando houver um contato político-diplomático entre o governo brasileiro e o governo americano”, alerta embaixador
Ao ser questionado pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Nelsinho Trad, embaixador Rubens Barbosa insiste em diálogo de alto nível entre Brasil e Estados Unidos pra minimizar impactos do tarifaço
No mesmo instante em que o presidente do Brasil referia-se a “sanções unilaterais” na abertura da Assembleia da ONU, em Nova York, a Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado realizava em Brasília uma audiência pública sobre os rumos da política externa brasileira no médio e longo prazos.
O encontro foi articulado pelo presidente da comissão, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), que conduziu o debate sobre o documento “Uma Estratégia para o Brasil – O Lugar do Brasil no Mundo”, elaborado pelo embaixador Rubens Barbosa e pelo Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice). O parlamentar, que liderou recentemente a missão de senadores aos Estados Unidos e preside a comissão temporária criada para abrir canais de diálogo com Washington, aproveitou a audiência para questionar Barbosa sobre os desafios colocados frente à disputa comercial e tecnológica entre norte-americanos e chineses.
O senador levou para o debate uma questão central: diante das tarifas de 50% impostas por Donald Trump, não caberia ao governo brasileiro buscar uma conversa direta com o presidente norte-americano? Ele também indagou ao ex-embaixador se repetiria a iniciativa parlamentar e se, no lugar do presidente da República, “iria procurar e insistir numa conversa de alto nível com o presidente Trump”?
A resposta do embaixador reforçou a necessidade de interlocução que o senador Nelsinho Trad e a comitiva que foi a Washington já defendiam desde a missão aos Estados Unidos em julho passado:
“Eu acho que a missão do Senado aos Estados Unidos foi importante. (…) Mas não tem saída. Essa questão só vai se resolver quando houver um contato político-diplomático entre o governo brasileiro e o governo norte-americano. O presidente Trump é imprevisível. Mas todo mundo procura chegar até ele. (…) Índia, Reino Unido, até a Venezuela.”
Enquanto isso, nos bastidores da Assembleia-Geral da ONU, Trump revelou que se encontrou brevemente com Lula em Nova York e afirmou que os dois devem conversar novamente na próxima semana. O republicano elogiou o brasileiro e disse ter tido “uma química excelente” com o presidente.
A possibilidade de diálogo direto entre os dois mandatários também reverbera caminho que tem sido explorado desde a missão in loco que o Senado realizou à capital norte-americana, quando uma conversa entre Trump e Lula já fora aventada.
A audiência de hoje, convocada pelo senador Nelsinho Trad, teve como base o estudo de Barbosa, que alerta que a polarização interna fragiliza o país e defende um planejamento de longo prazo, acima de governos, para enfrentar vulnerabilidades históricas. Entre os pontos destacados estão o Custo Brasil, a falta de competitividade industrial e tecnológica e a dependência externa em setores críticos como fertilizantes e defesa.
Barbosa reforçou que o Brasil deve explorar seus trunfos — agronegócio, transição energética e agenda ambiental — e se preparar para os impactos da disputa entre Estados Unidos e China. O diplomata também apontou o acordo Mercosul-União Europeia como decisivo para medir a capacidade do país em competir em mercados mais exigentes:
“No primeiro ano de vigência, 90% dos produtos entram com tarifa zero. O problema é: quem terá competitividade para aproveitar essa janela?”
Para o presidente da CRE, senador Nelsinho Trad, cabe ao Senado “tirar o país das respostas improvisadas” e construir, com o Executivo e a sociedade, uma agenda estratégica:
“Diante deste mundo em ebulição, temos o dever de buscar caminhos concretos para reposicionar o nosso país”.
O estudo “Uma Estratégia para o Brasil – O Lugar do Brasil no Mundo” não ficará restrito ao debate acadêmico ou parlamentar. “A ideia é que a partir do ano que vem, quando o tema da eleição presidencial estará presente em todas as discussões, nós o apresentemos. Nós temos um resumo executivo de duas páginas desse documento para os candidatos à Presidência da República, para que eles atentem para a necessidade de discussão das questões importantes para o Brasil. (…) Em vez de discutirmos as questões que dividem o país, vamos discutir coisas que somem, que mostrem a necessidade de planejamento e de uma visão estratégica de médio e longo prazo,” explicou o coordenador da iniciativa.
Fonte: nelsinhotrad.com.br
› FONTE: 24 Horas No Ar (24horasnoar.com.br)