Pressão dos EUA sobre petróleo russo domina reuniões com Senado brasileiro; Tillis vê possibilidade de adiar tarifa
Debate sobre combustíveis, engajamento bipartidário e reação legislativa marcam missão liderada pelo senador Nelsinho Trad em Washington
Washington (EUA) – A pressão para que o Brasil reduza ou interrompa a importação de combustível da Rússia dominou os encontros entre senadores brasileiros e parlamentares norte-americanos hoje (29) no Capitólio. Em missão oficial aos Estados Unidos, a comitiva brasileira liderada pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), ouviu de democratas e de republicano o mesmo recado: é preciso rever as relações com Moscou.
Embora a China tenha sido mencionada, o petróleo russo concentrou as preocupações centrais. Senadores dos dois partidos sugeriram a criação de mecanismos para garantir rastreabilidade da origem do petróleo e indicaram que o tema deve ser analisado após o recesso. A delegação brasileira respondeu com propostas técnicas e reafirmou o compromisso com a transparência regulatória já existente.
Presença bipartidária expressiva, mesmo às vésperas do recesso
Apesar da proximidade do recesso legislativo nos Estados Unidos, a missão foi recebida por um número expressivo de parlamentares. Já participaram das reuniões os senadores Tim Kaine, Ed Markey, Mark Kelly, Chris Coons, Jeanne Shaheen, Martin Heinrich e Thom Tillis, além da deputada Sydney Kamlager-Dove, co-presidente do Brazil Caucus. Para o senador Nelsinho Trad, “o engajamento evidencia o reconhecimento da importância estratégica da parceria com o Brasil”.
Durante reunião com a delegação brasileira, o senador Martin Heinrich (Democrata, Novo México) se posicionou de forma crítica às tarifas anunciadas contra o Brasil, destacando que não vê benefícios reais para o país e alertando para os impactos já sentidos pela população americana.
Heinrich citou o caso do café como exemplo de insumo cuja cadeia de suprimento não pode ser substituída internamente, gerando aumento expressivo de preços para os consumidores. Ele também mencionou o setor madeireiro, alertando que as tarifas têm pressionado o custo da habitação em meio à crise de moradia nos EUA.
Tillis vê possibilidade de adiamento da tarifa
Durante o encontro com o senador Thom Tillis (Carolina do Norte), o parlamentar expressou a expectativa de que a entrada em vigor da tarifa de 50% anunciada por Donald Trump possa ser adiada, diante de ações judiciais em curso. Ele considerou a medida um erro político com efeitos negativos para produtores e consumidores dos dois países, elogiou o posicionamento técnico da comitiva brasileira e lamentou a ausência de outros colegas republicanos nas discussões. Parlamentares da missão relataram que, em dado momento, Tillis chegou a dizer que defendeu o Brasil com interlocutores do Departamento de Comércio e reforçou que a economia não deveria ser usada da maneira como conduz o presidente Trump.
Deputada Sydney Kamlager-Dove: crítica à politização e articulação com caucuses
A deputada Sydney Kamlager-Dove, que representa a Califórnia e co-preside o Brazil Caucus, demonstrou preocupação com o impacto da tarifa sobre setores produtivos brasileiros e norte-americanos. A parlamentar sugeriu maior articulação com outros caucuses e indicou que a crise tarifária pode ser revertida judicialmente. Antes mesmo da reunião, ela havia publicado vídeo em suas redes sociais comentando o impacto da tarifa sobre produtos como café e suco de laranja, mencionando seu apreço pela comunidade brasileira na Califórnia.
Democratas organizam reação legislativa à tarifa
Os senadores Tim Kaine (Virgínia) e Ed Markey (Massachusetts) também se posicionaram contra a tarifa. Markey indicou que ele e os pares apresentarão medidas legislativas para reagir à imposição da alíquota adicional. Kaine afirmou que pretende forçar uma deliberação do Senado caso a notificação presidencial avance.
Não é BRICS… são Rússia e China
Nas reuniões com os senadores Mark Kelly (Arizona), Chris Coons (Delaware) e Jeanne Shaheen (New Hampshire), os parlamentares norte-americanos sugeriram abordagens alternativas para reduzir as tensões.
Outro ponto tratado foi a tramitação de sanções secundárias contra países que importam petróleo russo, sendo mencionado que o Brasil aparece em discussões parlamentares sobre o tema. A comitiva brasileira reafirmou a independência entre os Poderes e sugeriu uma iniciativa legislativa voltada à rastreabilidade da origem de petróleo e derivados, a partir de cooperação entre os dois Parlamentos.
› FONTE: 24 Horas No Ar (24horasnoar.com.br)