Missão Oficial do Senado Federal aos Estados Unidos
Em defesa do diálogo político e dos interesses estratégicos do Brasil
Washington, D.C. – 28 a 30 de julho de 2025 Comissão Temporária Externa para interlocução sobre as relações econômicas bilaterais com os EUA (CTEUA)
Este press kit reúne informações detalhadas sobre a missão oficial do Senado Federal aos Estados Unidos, que vai ocorrer entre os dias 28 e 30 de julho de 2025. Criada por meio de requerimento aprovado em Plenário, a iniciativa é conduzida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), com apoio da Presidência do Senado, e conta com a participação de parlamentares de diferentes partidos e regiões do país.
A missão tem caráter suprapartidário, institucional e estratégico. Seu objetivo é reabrir canais de diálogo político com o Congresso norte-americano diante das novas barreiras tarifárias impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. Além de defender os setores produtivos nacionais, o grupo parlamentar buscará fortalecer a cooperação bilateral em temas como comércio, investimentos, cadeias produtivas, segurança jurídica e inovação.
2. Objetivos da Missão
A missão parlamentar aos Estados Unidos foi concebida como resposta estratégica do Senado brasileiro à escalada protecionista do governo norte-americano. Seus principais objetivos são:
3.Composição da Comissão
Presidente: Senador Nelsinho Trad (PSD-MS)
Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, cargo que ocupa pela segunda vez. Foi procurado pela Embaixada dos Estados Unidos em março para fortalecer o diálogo com parlamentares norte-americanos e passou a articular esta missão aos Estados Unidos, criada como resposta institucional às tarifas comerciais impostas por Washington.
Médico, com especialização em Cirurgia Geral, Urologia, Medicina do Trabalho e Saúde Pública, foi prefeito de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, por dois mandatos. Reeleito com 71,41% dos votos e reconhecido como o melhor prefeito de capital do país, com 85% de aprovação.
Ex-líder do PSD no Senado, maior bancada da Casa, tem atuação destacada na política externa: presidiu a representação brasileira no Parlamento do Mercosul (Parlasul) até 2025; liderou os debates sobre o acordo Mercosul-União Europeia e Mercosul-EFTA; reativou e preside o Parlamento Amazônico, onde lidera esforços para institucionalizar o colegiado.
É defensor de uma política comercial baseada em previsibilidade, diálogo entre instituições e valorização dos interesses nacionais.
Senadora Tereza Cristina (PP-MS)
Vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, ex-ministra da Agricultura e uma
das principais vozes do agronegócio no Congresso Nacional. Em 2019, participou da articulação que solucionou uma crise tarifária semelhante envolvendo os Estados Unidos. É engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal de Viçosa (MG) e atuou como secretária de Estado, deputada federal e líder da Frente Parlamentar da Agropecuária. Em 2022, foi eleita senadora por Mato Grosso do Sul com mais de 60% dos votos. Sua presença na missão reforça o peso do setor agropecuário, especialmente diante das tarifas que atingem o café e o suco de laranja. Reconhecida por sua atuação técnica e equilibrada, foi listada pela revista Forbes como uma das 100 mulheres mais poderosas do agronegócio global.
Senador Jaques Wagner (PT-BA)
Ex-governador da Bahia, ex-ministro da Defesa e atual líder do governo no Senado Federal. Com trajetória política iniciada no movimento estudantil e sindical, participou da fundação do PT e da CUT. Foi deputado federal por três mandatos, ministro do Trabalho, das Relações Institucionais e da Defesa, além de secretário de Estado. Sua presença na missão sinaliza apoio do Executivo e reforça a articulação diplomática com o Legislativo norte-americano. É reconhecido por sua capacidade de diálogo e construção de consensos. Integrou comissões estratégicas como as de Relações Exteriores, Meio Ambiente, Economia e Desenvolvimento Regional.
Senador Fernando Farias (MDB-AL)
Empresário do setor sucroenergético e de transportes, é senador em primeiro mandato e tem se
destacado por sua atuação nas áreas de infraestrutura logística, bioenergia e competitividade internacional. Foi CEO da Usina Caeté e autor de projetos estruturantes para o setor exportador, como a reforma da legislação aduaneira brasileira e o financiamento à indústria verde. Representante do Nordeste na missão parlamentar e leva à mesa as preocupações regionais com o impacto das tarifas sobre sucos, alimentos e demais produtos exportados da região.
Senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP)
Astronauta, engenheiro e ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações. Foi o primeiro brasileiro
a ir ao espaço, durante a Missão Centenário, em 2006. No Senado, atua em pautas de inovação,
indústria de alta tecnologia e relações internacionais. É próximo do senador norte-americano Mark
Kelly (Arizona), também astronauta aposentado da Nasa, o que pode contribuir com o diálogo político
da missão nos EUA. É um dos parlamentares mais votados da história, com mais de 10 milhões de votos em 2022.
Senador Rogério Carvalho (PT-SE)
Líder do PT no Senado, médico sanitarista com mestrado e doutorado em Saúde Pública pela Unicamp. Ex-secretário de Saúde de Aracaju e de Sergipe, foi deputado federal e relator de importantes programas sociais e de saúde. No Senado, integrou a CPI da Covid e relatou a CPI da Braskem. Representa a ala governista na missão parlamentar, contribuindo para a construção de consensos e o alinhamento com o Palácio do Planalto.
Senador Esperidião Amin (PP-SC)
Ex-governador de Santa Catarina, ex-senador, ex-deputado federal e ex-prefeito de Florianópolis.
Doutor em Engenharia do Conhecimento, é reconhecido por sua experiência e rigor técnico. No Senado, atua em temas de economia e infraestrutura. Na missão parlamentar, deve contribuir com uma leitura estratégica dos efeitos das tarifas sobre a indústria do Sul do país e com propostas legislativas para mitigar os impactos. Os Estados Unidos são os principais compradores do estado que ele representa.
Senador Carlos Viana (Podemos-MG)
Jornalista, professor universitário e apresentador de televisão, foi eleito com mais de 3,5 milhões de votos por Minas Gerais. É presidente da Frente Parlamentar Evangélica e do Grupo Brasil-Israel. Tem forte base entre os setores industriais mineiros e atua em defesa da segurança jurídica, livre iniciativa e previsibilidade regulatória. Relator de marcos legais estratégicos, como o da aviação civil, ferroviário e cambial. Mantém diálogo com grandes grupos empresariais da Flórida preocupados com o cenário atual. Segundo ele, são acionistas, compradores e parceiros comerciais do Brasil, que estão dispostos a apoiar o país na superação da crise tarifária.
4. Contexto da Criação
Linha do tempo com os principais marcos
12 de março
A Casa Branca confirmou a imposição de tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio. Diante da reação internacional — com a União Europeia anunciando retaliações — o governo brasileiro convocou reunião com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) para avaliar os impactos. No Congresso, o senador Nelsinho Trad defendeu uma atuação proativa do Legislativo frente aos novos desafios. Na presidência da comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado Federal, o parlamentar organizou um encontro inédito com ex-presidentes da comissão para discutir os impactos do protecionismo norte-americano.
“Vivemos uma nova ordem global e o Brasil precisa atuar de acordo com seu tamanho e sua importância. Precisamos de uma política externa assertiva, que defenda nossos interesses e aproveite as oportunidades que surgem nesse cenário desafiador,” disse.
13 de março
Sob a liderança do senador Nelsinho Trad, a CRE reuniu ex-presidentes da comissão e representantes do Itamaraty para debater os desafios do comércio global. O parlamentar sul-mato-grossense alertou sobre a resposta do Brasil às mudanças internacionais e destacou preocupações para Mato Grosso do Sul, um dos maiores exportadores do país.
Participaram da reunião os ex-senadores Eduardo Suplicy, Cristovam Buarque, Heráclito Fortes, Eduardo Azeredo, Aloysio Nunes e Kátia Abreu. A secretária-geral do Itamaraty, embaixadora Maria Laura da Rocha, representou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e reforçou a importância do diálogo entre Executivo e Legislativo.
Encaminhamentos propostos:
Antes da reunião, o senador Nelsinho Trad também esteve com o embaixador Roberto Azevêdo, ex- diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), que alertou para as barreiras enfrentadas por produtos como celulose e etanol: “Não basta termos compradores, precisamos garantir que nossos produtos atendam às exigências globais. Para isso, o Brasil precisa agir com estratégia,” defendeu Azevêdo.
18 de março
O senador Nelsinho Trad propôs a formação de uma missão parlamentar aos Estados Unidos para
ampliar o diálogo sobre as tarifas impostas ao Brasil e fortalecer a cooperação comercial.
A proposta surgiu após reunião com o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA, Gabriel Escobar. “Foi uma conversa de entendimento. Saímos de lá planejando essa missão para buscar soluções equilibradas com parlamentares americanos.”
Escobar destacou que os EUA emitem mais de 1 milhão de vistos a brasileiros por ano, com menos de 40 mil violações. “Os brasileiros contribuem com mais de US$ 8 bilhões à economia americana.”
Sobre as tarifas, o diplomata ressaltou que barreiras regulatórias ainda dificultam os investimentos norte-americanos no Brasil.
2 de abril
Um dia após a aprovação da Lei da Reciprocidade Econômica no Senado, com relatoria da senadora Tereza Cristina, o presidente Donald Trump anunciou uma nova rodada de tarifas comerciais, apelidando a data de “Dia da Libertação” (Liberation Day). O plano previa um aumento inicial de 10% sobre produtos de diversos países, incluindo o Brasil.
O senador Nelsinho Trad, em discurso no Plenário, alertou para os riscos e reforçou a necessidade de estratégia por parte do governo brasileiro. Na época, o parlamentar já alertava: “tudo que o presidente dos Estados Unidos está fazendo, ele falou na campanha. Não podemos agir como se fôssemos pegos de surpresa. O elo mais fraco dessa cadeia é o produtor. Precisamos protegê-lo.”
4 de abril
Durante encontro com produtores rurais em Mato Grosso do Sul, o senador Nelsinho Trad foi aplaudido por sua defesa do agronegócio frente ao tarifaço. Ele informou que a proposta da missão parlamentar já havia sido apresentada ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e ao vice-presidente da República,
Geraldo Alckmin:
“Estamos montando essa comissão com deputados e senadores para, por meio do diálogo, tentar reduzir os impactos que com certeza virão.”
23 de abril
Durante missão oficial à Europa, representando o Senado nas discussões sobre o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, o senador Nelsinho Trad voltou a defender uma política externa com voz ativa do Congresso Nacional:
“O Senado não pode ser coadjuvante. Nosso papel é fortalecer a presença do Brasil no mundo, abrir mercados e garantir oportunidades para quem produz.”
8 de maio
O senador Nelsinho Trad recebeu, em reunião na Vice-Presidência da República, o apoio do vice- presidente Geraldo Alckmin à missão parlamentar aos Estados Unidos. Também foi acordada a inclusão formal do MDIC em um grupo de trabalho que seria criado pela CRE, resultado da reunião com ex-presidentes da comissão.
Alckmin refutou a retórica americana de reciprocidade às tarifas aplicadas pelo Brasil. “O índice real está mais próximo de 2,9%, considerando isenções e regimes especiais.”
Ele compartilhou atualizações sobre conversas com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e com a Representação do Comércio dos EUA (USTR).
12 de maio
Durante a programação da Brazilian Week, em Nova York, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) declarou apoio à missão parlamentar. O senador Nelsinho Trad reuniu-se com o presidente da CNI, Ricardo Alban, e representantes de 14 federações estaduais da indústria brasileira.
13 de maio
Diante de mais de 300 empresários e investidores, o senador Nelsinho Trad defendeu,
no LIDE Brazil Investment Forum, um papel mais ativo do Legislativo na política externa:
“Nossa corrente de comércio com os Estados Unidos superou US$ 81 bilhões no ano passado. Precisamos estar à altura dessa parceria.”
27 de maio
Audiência pública da CRE, presidida pelo senador Nelsinho Trad, destacou a situação da comunidade brasileira nos Estados Unidos — estimada em mais de 2 milhões de pessoas.
Encaminhamentos debatidos:
29 de maio
Uma decisão judicial em Nova York suspendeu parte das tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, ao entender que ele ultrapassou sua autoridade ao adotar as medidas sem aval do Congresso. O episódio
reacendeu o debate no Senado sobre os efeitos do protecionismo nas exportações brasileiras.A Comissão de Relações Exteriores (CRE), presidida pelo senador Nelsinho Trad, promoveu audiência pública com autoridades e especialistas para discutir os impactos econômicos e as estratégias de reação do Brasil.
Participaram do debate:
Durante o encontro, Rubens Barbosa alertou para a vulnerabilidade da pauta exportadora brasileira.“Soja, petróleo e minério de ferro representam 37% das exportações do Brasil. Apenas oito produtos concentram 65% da pauta nacional. Isso é um risco.” Ele defendeu a criação de um Eximbank — banco de fomento para fi nanciamento e garantia às exportações.
Na ocasião, também foi aprovada a criação do grupo técnico especial da CRE, presidido pelo senador Nelsinho Trad. O GT reúne consultores legislativos, técnicos da comissão e representantes dos gabinetes dos senadores membros da CRE.
Atua em três eixos:
9 de julho
O presidente Donald Trump anunciou uma tarifa adicional de 50% sobre as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto. Na carta enviada ao presidente Lula, vinculou o tarifaço ao julgamento de Jair Bolsonaro.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) alertou para os riscos ao comércio internacional. O estado de Mato Grosso do Sul, representado pelo senador Nelsinho Trad, seria diretamente afetado. Encerrou 2024 com produção recorde de mais de 1 milhão de toneladas de carne bovina e figura entre os maiores exportadores do país. Apenas no primeiro semestre de 2025, a carne bovina respondeu por 14,37% das exportações totais de Mato Grosso do Sul, segundo dados da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (SEMADESC).
Diante da gravidade do anúncio, a Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, sob a presidência do senador Nelsinho Trad, defendeu a urgência da missão diplomática aos Estados Unidos, articulada desde março com apoio do encarregado de negócios da Embaixada dos EUA, Gabriel Escobar. Até aquele momento, o diálogo entre os Parlamentos brasileiro e norte-americano estava previsto para ocorrer em setembro.
14 de julho
O presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), senador Nelsinho Trad, reuniu-se novamente
com Gabriel Escobar, encarregado de negócios dos Estados Unidos no Brasil, para tratar da escalada da crise comercial após o tarifaço anunciado pelo presidente Donald Trump.
Escobar voltou a defender o diálogo parlamentar como via estratégica.
15 de julho
A reação institucional ao tarifaço de 50% imposto pelo presidente Donald Trump ganhou força no Congresso. Em reunião extraordinária da Comissão de Relações Exteriores (CRE), convocada pelo presidente do colegiado, senador Nelsinho Trad, foi aprovada por unanimidade a criação de uma missão parlamentar aos Estados Unidos.
A decisão foi tomada após ouvir representantes do setor produtivo e do governo, entre eles: Mario Sergio Carraro Telles (Confederação Nacional da Indústria – CNI), Michel Platini Juliani (Associação Brasileira dos Importadores – ABIM), Luis Rua (Ministério da Agricultura e Pecuária – MAPA) e o embaixador Philip Fox (Ministério das Relações Exteriores – Itamaraty), que alertaram para os riscos de paralisação de cadeias produtivas, desemprego e desorganização do mercado interno.
Ainda no mesmo dia, o Plenário do Senado aprovou o requerimento (RQS 556/2025) que oficializa a missão a Washington.
A proposta recebeu o apoio da CNI e da ABIM e foi reconhecida como um passo estratégico para reabrir o canal político com o Congresso norte-americano, em defesa dos interesses econômicos do Brasil.
16 de julho
A missão parlamentar aos Estados Unidos, proposta pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores avançou com apoio político em reunião com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, líderes partidários e ministros de Estado. O encontro, realizado na Residência Oficial do Senado, reforçou o respaldo institucional à missão, idealizada há três meses com base em convite da Embaixada dos EUA.
O senador Nelsinho Trad já havia apresentado a proposta ao vice-presidente Geraldo Alckmin, que indicou apoio da Vice-Presidência e do MDIC.
17 de julho
Divulgada a composição da Comissão Temporária Externa para interlocução sobre as relações econômicas bilaterais com os Estados Unidos (CTEUA) e defi nida ida de oito parlamentares, na última semana de julho, para fortalecer o diálogo entre os Poderes Legislativos do Brasil e dos
Estados Unidos. A ênfase da comissão, que funcionará por 60 dias, são: comércio exterior, investimentos, cadeias produtivas, agricultura e segurança jurídica.
5. Impactos do Tarifaço dos EUA sobre o Brasil
Em 2024, 12% das exportações brasileiras foram destinadas ao mercado estadunidense, totalizando vendas de US$ 40,368 bilhões. Já as importações totalizam 15,5% do total importado pelo Brasil, somando US$ 81,021 bilhões. O déficit comercial brasileiro em 2024 foi de US$ 283,8 milhões. Desde 2008, o Brasil registra déficit recorrente no comércio bilateral com os EUA. Mesmo assim, a tarifa real média aplicada pelo Brasil em relação aos produtos norte-americanos foi de 2,7% em 2023.
Tanto nas exportações quanto nas importações, os EUA foram o segundo maior parceiro do Brasil, ficando atrás apenas da China. Contudo, as exportações para os EUA são mais diversificadas do que para a China, apresentando um valor agregado maior, dada a relevância da indústria de transformação para
esse comércio. Ao todo, 9.500 empresas brasileiras exportam para os EUA. De janeiro a junho de 2025, o Brasil exportou para os EUA US$ 20,021 bilhões e importou daquele país US$ 21,695 bilhões, de modo que, tal qual em 2024, os EUA estão com superávit no comércio bilateral e são o segundo principal parceiro comercial do Brasil.
O Banco Central avalia que, se impostas, as tarifas irão reduzir 0,2% a 0,6% da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Essa análise é compartilhada pelo mercado financeiro. O Santander estima que o impacto das tarifas será uma redução de 0,2% do PIB em 2025 e de 0,3% em 2026.
A Confederação Nacional das Indústrias (CNI) estima uma redução no PIB de R$ 19,2 bilhões, puxada pela queda de R$ 52 bilhões nas exportações. Já o Itaú considera que a queda das exportações brasileiras será menos expressiva, com perdas estimadas de US$ 16 bilhões ou, se redirecionadas a outros mercados, de US$ 5 bilhões. Para o Santander, a queda de receita decorrente da redução no volume exportado poderia ser compensada caso o câmbio ficasse acima de R$ 5,75/US$ de modo que os exportadores mantivessem a receita em moeda nacional pelo efeito câmbio. Apesar de possível, o Santander não acredita que o dólar acima de R$ 5,70/US$ seja viável, pois, pelo efeito da desvalorização cambial sobre a inflação, também significaria aumento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em entre 1,5% e 2%. Por outro lado, se não houver esse efeito câmbio sobre a inflação, a tendência é que a maior oferta de produtos no mercado reduza o IPCA em 0,1%.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) avalia que as perdas decorrentes das tarifas unilaterais podem chegar a R$ 175 bilhões nos próximos dez anos. Isso representa uma redução do PIB brasileiro a longo prazo de 1,49%. Caso o Brasil imponha tarifas de 50% lineares aos produtores norte-americanos, então o impacto seria maior e chegaria a R$ 259 bilhões, com redução do PIB de longo prazo de 2,21%.
Segundo estudo da CNI, os setores mais afetados pela majoração tarifária serão: tratores e máquinas agrícolas, com redução de 23,61% na exportação e de 1,86% na produção; aeronaves, embarcações e outros equipamentos de transporte, com diminuição de 22,33% na exportação e de 9,19% na produção; e de carnes de aves, com queda de 11,31% na exportação e 4,18% na produção.
Ao todo, 30 segmentos da economia brasileira direcionam pelo menos um quarto das suas exportações para os EUA. O impacto das tarifas será sentido principalmente por setores industriais com forte presença no mercado norte- americano. Equipamentos de transporte, como aviões e embarcações, por exemplo, têm 22,1% de seu faturamento atrelado às exportações aos EUA. Em seguida, aparecem madeira (17%), metalurgia (10,1%) e máquinas e equipamentos (4,8%). Entre os produtos, os mais atingidos vêm a ser tratores e máquinas agrícolas, cuja exportação pode cair 23,6%, o que deve se refletir em uma redução de 1,86% na produção. Também devem sofrer perdas significativas as exportações de aeronaves, com retração de 22,3% e queda de 9,2% na produção, e carnes e aves, com redução de 11,3% nas vendas externas e de 4,2% na produção.
Entre as empresas brasileiras mais afetadas está a Embraer, que estima um custo adicional por avião decorrente da tarifa de R$ 50 milhões. Atualmente, a Embraer enfrenta custo tarifário de US$ 360 milhões anuais e estima que esse valor será majorado em 400%, alcançando US$ 1,8 bilhão, o que pode reduzir o lucro da empresa de 14 a 15%. A empresa está no momento com 181 aviões comerciais encomendados para seis companhias aéreas estadunidenses: American Airlines, Republic Airlines, Horizon Air, Azorra, AirCastle e SkyWest, com entregas previstas para 2027. A Embraer é líder no mercado mundial no segmento de aeronaves e a terceira maior produtora mundial de aeronaves comerciais, atrás apenas de Boeing e Airbus. O mercado estadunidense responde por 45% das vendas da Embraer de jatos comerciais e por 70% de jatos executivos.
Por isso, a empresa compara as perdas decorrentes do “tarifaço” às perdas da pandemia de covid-19.
O setor de alimentos também é afetado. No caso das frutas, o impacto imediato incide sobre as exportações de manga. As exportações de suco de laranja seriam afetadas sobremaneira. O setor já enfrenta uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada e os fornecedores brasileiros são responsáveis por 80% da demanda norte-americana. Já as exportações de carne bovina serão afetadas, pois os EUA respondem por 12% das exportações do setor e totalizaram 270 mil toneladas em junho de 2025. Quanto a peixes, crustáceos e moluscos, 60,8% da produção é enviada aos EUA.
Quanto aos efeitos por Estado brasileiro, destacamos preliminarmente que as exportações brasileiras continuam concentradas no Centro-Sul, sendo nele esperada maior perda de receitas.
Por outro lado, os mais prejudicados em termos percentuais não são aqueles com maiores perdas em termos de receitas. Embora São Paulo tenha perdas estimadas de US$ 4,4 bilhões, isso representa apenas 19% das exportações do Estado. Já o Ceará, com perdas estimadas de US$ 659 milhões, teria 44,9% de suas exportações atingidas, pela importância dos pescados e crustáceos para os EUA em sua pauta exportadora.
Fonte: Comex Stat
Impactos das tarifas na economia dos EUA
Segundo a Bloomberg, a tarifa alfandegária média paga pelos cidadãos estadunidenses atinge 13%, o que representa um aumento de mais de cinco vezes em relação à média de 2024.
A estimativa da Bloomberg é que as tarifas de Trump reduzam o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA em 1,6% nos próximos três anos. Neste ano, estima-se uma redução do PIB decorrente das tarifas de 0,37%. Além de efeitos recessivos, a guerra alfandegária aumenta a inflação nos EUA, com estimativa de inflação ao consumidor de 0,9% neste ano.
Efeitos setoriais das tarifas contra o Brasil
Considerando apenas as tarifas aplicadas ao Brasil, elas impactam o preço pago pelo consumidor final, com efeitos negativos sobre o consumo agregado.
Os principais destinos das exportações brasileiras são Califórnia, Flórida e Texas. Em 2024, quase a metade do comércio brasileiro para os EUA foi absorvida por esses três estados.
Em relação à Califórnia, 76% do valor importado correspondeu a produtos da cadeia do petróleo. Esses bens também são principal item de importação do Texas, mas correspondeu apenas a 19% da pauta, representando uma composição comercial mais equilibrada. Para a Flórida, o item “Aeronaves, veículos espaciais, e suas partes” liderou a pauta de importação do Brasil, em decorrência da produção do jato executivo Phenom, da Embraer, na planta localizada na cidade de Melbourne, próxima a Orlando.
Os EUA importam 90% do suco de laranja que consomem e, desse total, 60 a 80% é proveniente do Brasil. A produção doméstica da Flórida foi afetada negativamente por uma doença chamada greening, o que aumentou a dependência estadunidense das importações de suco de laranja. Por conseguinte, existe uma elevada vulnerabilidade do mercado norte-americano a tarifa de 50% sobre o suco brasileiro, pois afetará diretamente o preço ao consumidor final. Em 14 de julho de 2025, os preços futuros do suco de laranja na Bolsa de Nova York alcançaram seu maior valor dos últimos 4 meses, em meio a temores de que as tarifas sugeridas pelo Presidente Trump reduzam a oferta do produto nos EUA.
Fonte: United States Census Bureau
Fonte: United States Census Bureau
Fonte: United States Census Bureau
Os EUA não produzem café e o Brasil se destaca como o maior fornecedor, suprindo cerca de 30% do café vendido no mercado americano. Os principais concorrentes do Brasil no mercado estadunidense de café são Colômbia (20%) e Vietnã (10%). A tendência é de aumento do preço ao consumidor estadunidense.
Seção 301
No que se refere à decisão, em 15 de julho de 2025, de o governo dos Estados Unidos iniciar investigação sob a Seção 301 do Ato de Comércio de 1974 (Section 301 of the Trade Act of 1974), algumas considerações preliminares devem ser feitas. A administração Trump atribui o uso da Seção 301 para impor tarifas como medida punitiva e para reduzir lacuna entre as práticas governamentais dos EUA e de países estrangeiros que podem prejudicar ou discriminar as exportações, empresas e trabalhadores norte-americanos. Além disso, a administração justificou muitas de suas recentes ações tarifárias apontando para supostas deficiências nos procedimentos de solução de controvérsias da OMC (Organização Mundial do Comércio) e para a inadequação ou inexistência de regras da OMC para
lidar com certas práticas comerciais. Também citou o que considera o fracasso de negociações e acordos comerciais anteriores em promover acesso recíproco ao mercado para empresas e trabalhadores dos EUA.
No que se refere ao procedimento de investigação, o Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) deve buscar consultas com o governo estrangeiro cujos atos, políticas ou práticas estejam sob investigação. O USTR solicitou consultas com o Brasil em conexão com a investigação e será realizada uma audiência relativa a essa investigação em 3 de setembro de 2025. Nesse contexto, o USTR pode adotar todas as ações apropriadas e viáveis autorizadas pela Seção 301 “e todas as outras ações apropriadas e viáveis dentro do po
› FONTE: 24 Horas No Ar (24horasnoar.com.br)